Está um lindo dia, meus caros amigos.
Mas lá fora anda um inimigo invisível, a ceifar vidas, a infectar milhares de pessoas e a confinar-nos às nossas casas, introduzindo uma disrupção brutal nas nossas vidas em sociedade. 1020 casos, cinco com alta, seis mortos, dez milhões sob ameaça.
O que podemos fazer? O que temos feito. Ficar em casa, evitar os contactos sociais, os cumprimentos, os abraços, os beijos. Testar, testar, testar. E esperar que quem nos dirige esteja a tomar as boas decisões.
Ontem, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ganhou as suas esporas de cavaleiro, ao libertar os países europeus do jugo do défice para poderem colocar todo o dinheiro que quiserem nas economias para que elas continuem a funcionar na medida do possível e a crise não seja brutal.
Ficou por decidir o que acontecerá quando o Covid-19 for vencido e regressarmos à normalidade. Sem o lançamento de eurobonds, os países com maiores dívidas e défices serão de novo fortemente penalizados pelos mercados, que só lhes emprestarão dinheiro a taxas exorbitantes. Por isso, é necessário, imperioso e urgente que os 28 se ponham de acordo desde já sobre isto.
Quanto ao Governo português, foi ontem anunciado o apoio às famílias e às pequenas e médias empresas. Curiosamente, não se disse quanto vale este apoio, ao contrário do pacote de 9,2 mil milhões anunciado no dia anterior. E curiosamente nenhum jornalista fez essa pergunta ao primeiro-ministro. Aliás, curiosamente também nenhum jornalista perguntou ao primeiro-ministro até onde está disposto a deixar ir o défice orçamental ou a dívida pública em 2020, depois da decisão da Comissão Europeia de libertar os países do espartilho dos tratados europeus. Ficou apenas esclarecido que o pacote anunciado de 9,2 mil milhões de euros é apenas para este trimestre. Se houver necessidade, o Governo admite aumentar esse valor. Uma coisa é certa (e era óbvia, mas foi bom que o primeiro-ministro o tivesse dito claramente): o Governo não vai garantir a 100% o rendimento das pessoas nem o emprego, bem como não vai garantir a 100% a liquidez de que as empresas necessitam.
E temos três meses muito duros pela frente. Ou seja, vamos ter quebras de rendimento, vamos ter um aumento significativo do desemprego e muitas empresas vão fechar. Esperemos que entre os apoios comunitários e os do Governo o dinheiro chegue rapidamente às pessoas e às empresas – embora a burocracia administrativa e o conservadorismo dos bancos não dê muitas esperanças que tal venha a acontecer.
Bom, bom era que a crise estivesse quase vencida no final de Maio. É difícil mas se mantivermos o comportamento cívico que temos tido pelo menos o coronavirus terá mais dificuldade em se disseminar. Resguardem-se, tomem precauções e tenham um excelente fim de semana dentro do possível.
Jornalista especializado em assuntos económicos, foi diretor-adjunto do semanário Expresso e coapresentador do Expresso da Meia-Noite, transmitido na SIC Notícias.
Publicou seis livros, um de crónicas económicas e cinco de poesia, quatro dos quais em co-autoria com António Costa Silva. É um leitor compulsivo, adora jogar xadrez e diz poesia com uma banda de jazz desde 2006.
É o atual presidente do Conselho de Administração da Agência Lusa.
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